Como potencializar o desenvolvimento de seu filho de forma saudável.
Na terça-feira dia 03/09/19, o psicólogo e professor Marcos Meier deu uma palestra em Curitiba, destinada a pais e professores sobre a importância de impor limites para o desenvolvimento das crianças.
Logo no início, o professor nos apresenta uma analogia, comparando a educação da criança à um trem e seus trilhos. Para que o desenvolvimento seja alcançado, ou seja, para que o trem não descarrile, são necessários dois paralelos para agir em conjunto, afeto e autoridade, os trilhos. Não adianta afeto sem autoridade, nem autoridade sem afeto. “Mas eu sou uma mãe muito carinhosa”, sim, uma mãe muito carinhosa, não amiga. Os pais não devem se chamar amigos de seus filhos. Os amigos do seu filho ficam de seu lado, independente dele estar certo ou errado, e não é o que os pais devem fazer. Os pais têm o dever de lhe ensinar o certo e de chamar atenção quando estiver errado.
Mas, e se faltar afeto?
Os bebês mostram sua falta de carinho ficando doentes, como doenças de pele, por exemplo. O professor contou um caso de um bebê que sua pele descamava a vários dias, a mãe da criança já a tinha levado em vários médicos e nenhum deles soube identificar ou tratar o problema. Então, um médico mais velho, percebeu o que se passava e receitou Óleo Johnson’s com açúcar. Passar massageando pelo corpo todo e, em seguida, dar um banho quentinho, 3 vezes ao dia. O médico, na verdade, receitava carinho. A mãe desse bebê passava o dia inteiro fora de casa, trabalhando, e o deixava com a filha mais velha, que tinha 10 anos. A menina dizia que deixava o neném no cercadinho o dia todo para ir brincar sozinha. Mas porque açúcar? O médico explica que, se ele receitasse apenas o óleo, era muito provável que a mãe o ignorasse e procurasse outro médico. Então, com o açúcar, ela poderia considerar ser uma simpatia.
De outro modo, as crianças mostram a falta de carinho se tornando “chatas”. Vou explicar melhor: sabe aquela criança que, em uma festa de aniversário com os amiguinhos, bate em todo mundo, que no pula-pula tira o amigo para poder entrar e as crianças não gostam de conversar? Esse tipo de criança. Quando a criança não faz nenhuma dessas coisas, os próprios adultos começam a conversar com elas, perguntando quem são os pais, onde estuda, quantos anos tem etc. Essas interações com adultos, com outras crianças e com a família, como já comprovado cientificamente, ajudam na produção de sinapses cerebrais, em seu desenvolvimento. O que não acontece com essas crianças que sentem falta de carinho, já que elas não se misturam com crianças e muito menos com adultos.
Agora, os adolescentes não gostam de afeto em público, mas isso não quer dizer que não gostem em casa. Eles se tornam irritáveis quando sentem falta de carinho, explodem com mais facilidade, brigam e respondem.
Mas, e se faltar autoridade?
Imagine que a escola vai fazer um passeio com seu filho para esse lugar na foto acima. Quando as crianças chegam, os professores jogam uma bola e dizem para eles brincarem. Elas não vão brincar com a bola, elas vão até a beirada e, quando verem o quão alto é, elas vão voltar para o meio da pedra. Esse é o tipo de situação em que a criança deixa de ser criança para cuidar da própria sobrevivência, o que faz com que dificulte seu desenvolvimento. Agora, imagine que a escola construa paredes de vidro em volta da pedra e coloque uma rede por cima pra bola não sair. As crianças, ao chegarem perto da beirada, vão encostar nessa parede, vão saber que não tem como elas caírem e nem a bola cair. Então, elas vão brincar, porque com esses limites estabelecidos elas podem se divertir sem se preocupar. O mesmo acontece quando a criança está com os pais que estabelecem limites, ela vai brincar, ela vai ser criança, pois ela sabe que quem tem que se preocupar são os pais.
A autoridade ajuda a criança, além do desenvolvimento, com a maturidade emocional. A criança deve aprender a entender duas palavras: “não” e “espere”. Ao dizer “espere” a uma criança você está a ensinando a adiar a satisfação do prazer. Como, por exemplo, quando um filho vai procurar a mãe e ela está conversando com alguém. Ao invés de ficar chamando o tempo todo pela mãe, com um simples gesto da mão ela o pede para esperar e ele espera, pois ele sabe que, assim que a mãe terminar de falar o que precisa, ele vai ter a completa atenção dela. Agora, ao dizer “não” você está ensinando a criar resistência à frustração. O professor Marcos Meier explica que isso serve até para os adultos, nós devemos nos frustrar, mas também devemos aprender a sair dessa frustração, desde crianças. Isso não cria uma criança frustrada, mas uma criança, um futuro adulto, que saiba aceitar um “não” e a conquistar um “sim”.
Participar em casa é uma das maneiras das crianças sentirem que fazem parte da família, ensiná-los a ter responsabilidades, a se sentirem úteis, a perceberem o valor das coisas e, até mesmo, aumentarem sua autoestima. A criança que é “hóspede” na sua própria casa, está mais propensa a ser uma pessoa que não corre atrás de suas ambições, que espera que algo “caia do céu”, sem se esforçar minimamente para concluir seus objetivos. Além disso, lei não proíbe as crianças fazendo atividades domésticas, até está presente no artigo 1.634 do Código Civil de 2002, incluído pela Lei nº 13.058 de 2014:
Art. 1.634. Compete a ambos os pais, qualquer que seja a sua situação conjugal, o pleno exercício do poder familiar, que consiste em, quanto aos filhos:
IX – Exigir que lhes prestem obediência, respeito e os serviços próprios de sua idade e condição.
Enfatizo “serviços próprios de sua idade e condição”: não se deve colocar uma criança de 4 anos para lavar uma faca, por exemplo. Mas, ela pode ajudar lavando tampas e potes de plástico, materiais de silicone e objetos não cortantes. É certo que o tempo em que um adulto faria para lavar a louça sozinho seria muito menor, mas aqui estamos tentando desenvolver a responsabilidade e sentimento de pertença da criança. Vale ressaltar a necessidade de mostrar à criança que fez um bom trabalho, mostrar que ela ajudando os pais em casa os deixam felizes. Assim, começa a associação de trabalho à felicidade, facilitando a criança para, quando for adulto, se inserir no mercado de trabalho.